Em investimentos, as vezes menos é mais. A ilusão da performance

Pense rápido, qual retorno médio anual você queria ter:

Um retorno médio de 34%aa ou um retorno médio anual de 5%aa ?

A ilusão da melhor performance

Vamos pegar dois exemplos (adaptado do livro All about Dividend Investing):

Investidor 1: Investiu 100 mil reais na ação do momento. No ano 1 ela bombou e o investidor 1 obteve um retorno de 100% (dobrou capital). No ano 2 ele começou então com 200 mil reais. Ai aquela ação do momento caiu em desgraça e não entregou nada do planejado (OGX?), caindo 99%. No final do ano 2 o investidor terminou com 2 mil reais. No ano 3 a ação volta a performar absurdamente bem dada a uma reestruturação e ganha 100%. Então ele encerra o ano 3 com 4 mil reais. Um retorno médio anual bruto de 33,67% aa.

Investidor 2: Investiu 100 mil reais em uma ação americana consolidada e considerada blue chip. No ano 1 o mercado está em alta e esta empresa retorna 15% levando a carteira a 115 mil reais no começo do ano 2. Ano este de bear market e leva a uma desvalorização de 15%. No início do ano 3 o saldo de R$ 97,750. No ano 3 o retorno novamente é de 15%, levando o saldo ao final do período para R$ 112,412 reais. Um retorno médio anual bruto de 5% aa, porém um saldo final de mais de 12% acima do saldo inicial e 28x mais do que o saldo do investidor 1.

E ai, qual o retorno médio anual que gostaria de ter tido agora? 

Estes exemplos um pouco extremos mas possíveis ilustram o perigo da volatilidade na sua carteira de renda variável. As vezes o investidor iniciante se deixa levar pelos resultados passados ou pela onda do momento e esquece de levar em conta os períodos negativos e o maior impacto que eles tem do que os períodos de retornos positivos.

A magnitude do ganho não é a mesma da queda

Veja abaixo a tabela que representa o quanto de queda já elimina todo o retorno anteriormente obtido:

Um ganho de                         é zerado com uma queda de
5%                                                -4,76%
10%                                              -9,09%
30%                                              -23,08%
50%                                              -33,33%
70%                                              -41,18%
90%                                              -47,37%
100%                                            -50%

Uma queda de                         precisa de um retorno de (para voltar ao zero a zero)
5%                                                5,26%
10%                                              11,11%
30%                                              42,86%
50%                                              100%
70%                                              233,33%
90%                                              400%
100%                                            infinito, você faliu !

Atente-se a regra de ouro: Nunca perca muito capital. Prevenir grandes perdas é muito mais importante que obter grandes retornos.

Uma vez que o capital é perdido, um retorno absolutamente fantástico e raro de 100% só vai dobrar o capital que você não perdeu, mesmo que nem tenha realizado o prejuízo, pois o que dobrará é apenas o saldo investido.

E você, se vê como o investidor 1 ou o investidor 2? Comente abaixo

Bibliografia e tabela: Schreiber, Jr., and Gary E. Stroik, All about Dividend Investing, 2nd edition  

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24 thoughts on “Em investimentos, as vezes menos é mais. A ilusão da performance

  1. Comprei ELPL4 várias vezes quando ela era a queridinha do mercado.
    Preço médio de 28,80.
    Ela chegou a estar abaixo de 6 reais.
    Não vendi e "esqueci" lá.
    Acabei vendendo com a subida em 32,00. Logicamente que considerando o custo de oportunidade etc e tal, ganhei menos que na poupança.
    Mas, emocionalmente, achei muito legal.

    1. Mais um exemplo que buscar retornos altos as vezes retorna menos que a renda fixa com muito mais "emoção", o que é extremamente ruim para o investidor. Emoções devem ficar de fora do processo de investimento. Abcs

  2. Prefiro a velha e boa renda fixa. Ainda mais pra quem tem pouco ainda.

    Uma coisa é ter 1 milhão e arriscar 10 mil em ações, outra é ter 50, 55 e arriscar 10 mil.

    Eita coisa boa essa renda fixa, é sossego. haha

    1. Renda fixa com certeza tem seu papel em uma carteira de investimentos, assim como a RV também tem. Só é preciso dosar o risco/retorno a níveis aceitáveis. Ir all in somente em uma é extremamente arriscado e danoso para seus investimentos no longo prazo. Perder muito dinheiro por arriscar demais é algo que não pode acontecer se o seu sonho for viver de renda um dia.

  3. Olá AA40,

    Em tese essa conta sua está errada. A taxa de juros seria de -65,80% a.a.
    A fórmula dos juros compostos: F = P.(1 + i)^n.

    Preferia a segunda opção, ou seja. 5%a.a

    Abraços!

    1. Mistério sim mas ao julgar pelo saldos, o investidor 1 precisará de muitos 100% para conseguir retomar seu capital, ou seja, não levo muita fé nele. Abcs

  4. o pick stocking é uma coisa muito doida.
    O sujeito acha que conhece bem a empresa e aposta muita ficha nela, muitas vezes dá com os burros nágua.
    Assumir a ignorância e comprar PIBB11 assim como o SP500 estou considerando coisa muito sábia e prudente. Eu sou mais Bogle do que Buffet ou Peter Lynch.

    Carteira simples: PIBB11, FIXX11, IVVB11, e mais uns três títulos diferentes do TD como IPCA 2035, IPCA 2045 e Selic já protegem bastante o investidor comum e podem trazer muitos bons retornos, paz e alegria, basta ir dosando a compra e o percentual de cada um na carteira.

    Abraço!

    1. Realmente FS. Para fazer stock picking vc precisa diversificar em no mínimo umas 20 a 30 boas empresas B&H. Estou atualmente com 80% investido em carteira indexada S&P, bonds e 20% testando uma carteira DGI com 25 stocks dividend achievers e aristocrats. Vamos ver qual se sai melhor, por enquanto a DGI tem superado a Indexing. Abcs

    2. O Frugal disse algo que tenho observado bastante em membros da blogosfera que possuem um conhecimento mais técnico e menos emocional.

      Não só ele como diversas personalidades de peso aqui da blogosfera tem cada vez mais se convencido que uma carteira de ativos isolados (ditos "bons", escolhidos a dedos, supostamente com bons fundamentos) provavelmente vai performar igual ou PIOR que uma carteira formada por um "ignorantão" que não quis perder tempo com nada e simplesmente foi lá e comprou algum fundo de índice, como o FIXX11, IVVB11, etc.

      De cabeça, lembro que no blog do ViverdeRenda e ViverdeDividendo os autores tem pensamentos semelhantes.

      Isso é engraçado de se ver: o indivíduo estuda tanto e chega a conclusão de que a técnica mais básica talvez seja a mais eficiente, ou, pelo menos, o custo x benefício envolvido seja melhor.

      Como eu ainda estou longe de ter o conhecimento desses caras (que admiro muito e também sigo os blogs), ainda fico na ilusão de ter uma carteirinha de ações "ditas boas", mas sempre pensando que talvez o melhor fosse mesmo tacar tudo no fundo de índice.

      Espero que não tenha nenhuma bastterzete aqui para vir com pedras, já que lá a seita não admite sequer falar em fundo de índices kkkkk

      Enfim, parabéns também ao AA40 por manter esse espaço aberto para todas as idéias, inclusive aquelas que pessoalmente vc não utiliza ou não vê vantagem.

    3. É isso mesmo Unk. Ainda mais nos EUA, o investimento em índice (passivo) supera em praticamente todos os anos a maioria dos pickers e active managers. No Brasil ainda nào por que o índice ainda não é selecionado por qualidade como o DJI por exemplo, mas em breve isso será mais verdade no Brasil tbm.
      Em investimentos o simples quase sempre é o melhor. Não adianta inventar a roda e tredar como maluco, poucos conseguem se dar bem fazendo isso.
      Valeu Abcs

  5. AA40,

    Gostei das 2 tabelas, mostra bem em que resulta o desastre de quedas acumuladas.

    Ganhos menores muitas vezes são bem mais confortáveis do que a insegurança e a tensão causadas por possíveis (mas não certos) ganhos maiores. Menos é mais nesse caso também.

    Boa semana,
    Simplicidade e Harmonia

    1. Exatamente. Matematicamente está comprovado que a volatilidade pode ser muito danosa a carteira, justamente por que você não estará sempre ganhando e perderá muito as vezes. Uma vez que perca muito já é o suficiente para destruir sua carteira ao ponto de transformar 100 mil reais em 2 mil reais. Abcs

    2. AA40,
      A volatilidade em si não é um problema. O problema está na exposição excessiva em um ou poucos ativos (falta de diversificação) e no foco no curto prazo. O investidor que diversifica em ativos de valor, por exemplo, numa proporção que os ativos individualmente não ultrapassem 2-3% da carteira não sentirá em demasia os efeitos da volatilidade. Se o investidor manter-se em boas empresas de valor e reinvestir os proventos sentirá cada vez menos os efeitos da volatilidade sobre a sua carteira. Quem tem preço médio de 1 real e ação está cotada a 50 não está nem aí sem subiu ou desceu alguns reais.

    3. Respondendo ao Anônimo das 18:44 – o seu comentário mostra como você não entendeu o meu comentário anterior. Você está focando em UMA ÚNICA EMPRESA e no CURTO PRAZO. Suponhamos um investidor que tenha alocado 30% do seu patrimônio em RV e isso corresponde ao valor hipotético de 300k. Este mesmo investidor diversificou estes 300k igualmente em 30 ativos, ou seja, cada empresa representa 1% ou 10k do patrimônio. O que representaria uma queda de 50% em um destes ativos? 0,5% ou 5K de patrimônio total de 1m, entendeu? Então quando pessoas como você que cita ativo x ou y que está ruim, ou tem muito capital nestes ativos (e sofre com a queda) ou é ignorância mesmo.

    4. Anon 1, volatilidade sim é um problema mas diria que mais psicológico. Poucos tem estômago para ver seu patrimonio se reduzir a metade em um curto período de tempo e continuar tranquilo sem mudar nada.
      Logicamente a alocação de ativos é essencial para mitigar estes riscos como bem comenta, mas dependendo do beta, eles irão subir e cair juntos com o mercado e isto em sí trará sim volatilidade a carteira que, para o investidor (não trader) é algo que pode vir a ser muito danoso tendo em vista as possíveis decisões emocionais tomadas em momentos de estresse.
      O exemplo do livro AADI é um extremo como falado no texto mas ilustra bem a ilusão de obter retorno alto a todo custo. No final o que realmente importa é o saldo final. Abcs

  6. Tudo vai depender do quanto está exposto seu capital em RV. Se tiver uns 80% em RV tem que ter estomago. Mas se tiver uns 10% e ainda acompanhando e escolhendo boas empresas o sono é mais tranquilo. Qdo se fala em RV ainda prefiro os FIIs. são mais fáceis de analisar e não há tanta volatilidade.

    abs e bons investimentos

  7. Já fui como o investidor 1 no mercado privado (empresas, retorno de empresas etc) e só tomei nabo.

    Atualmente, estou caminhando como o investidor 02, mais focado em aumentar o patrimônio, diversificado e com uma rentabilidade mais constante e segura.

    Com 30 ativos e caminhando para 75% da carteira em RV, cada ativo isoladamente teria pouca representatividade frente ao todo, então tenho essa "segurança psicológica". Ainda não sei como seria meu psicológico em quedas constantes em todos os ativos por período grande.

    Específico à rentabilidade, em minhas simulações, gosto de trabalhar com o percentual de 8% a.a, ou 0,6434 ao mês, senão errei nas contas aqui. Acho conservador, qualquer coisa acima, fico feliz, se vier abaixo, não quebro muito a cara.

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