Dinheiro pode tornar você uma pessoa ruim? Veja isto

Fazia tempo que não escrevia um dos polêmicos posts sobre psicologia de mercado, algo que me interessante bastante. Após assistir o bom documentário do Netflix “Capital in the 21st Century“, um estudo muito interessante é mencionado.  Elaborado na Universidade da Califórnia-Berkeley pelo PhD em Psicologia, Dr. Paul K. Piff, o estudo demonstra o que acontece com a sua mente quando você adquire dinheiro e poder.

O experimento

Pessoas desconhecidas, em pares, foram levadas ao laboratório do Dr Piff para jogar o famoso jogo de tabuleiro “Monopoly“, só que um jogo um pouco diferente: A partir de um sorteio “cara ou coroa”, determinou-se quem dos dois seria o “jogador rico” e quem seria o “jogador pobre”.

O jogador rico recebeu duas vezes mais dinheiro para jogar e poderia jogar o dado duas vezes em vez de uma, assim o jogador rico poderia mover-se pelo tabuleiro muito mais rápido que o jogador pobre, assim, acumulando muito mais dinheiro. Claramente uma situação de desigualdade, como vemos no mundo ai fora diariamente.

Dentro de poucos minutos, a dinâmica e a interação entre os dois jogadores se tornava clara, invariavelmente.

O jogador rico começa a se comportar diferente do jogador pobre. O jogador rico começa a se tornar mais dominante, comem mais snacks, fazem mais barulho do que o jogador pobre. Mais ainda, começam a ser mais rudes, exibidos e se gabam de quão bem estão. Ainda, na grande maioria das centenas de repetições realizadas, os jogadores ricos menosprezaram os jogadores pobres que estavam indo mal (veja no vídeo).

O resultado

Pessoas que estão ganhando somente por causa da sorte de um “cara ou coroa” inicial, se comportam como se eles realmente merecessem ganhar por seus méritos.

Quando perguntadas “Por que você ganhou o jogo?” Você imaginaria que o jogador rico diria que foi por causa do sorteio e por que teve o dobro de chances e vantagens durante o jogo, mas, pasmem,  NENHUM dos jogadores ricos atribuíram o sucesso no jogo a sorte de tirar um “cara” no inicio do jogo que os deixaram naquela posição privilegiada em primeiro lugar.

Assista e veja:

O outro experimento muito interessante citado pelo professor é a correlação entre infração de transito cometida e o valor do carro.

Não é sobre ser rico ou pobre, mas é sobre como as pessoas se sentem e se comportam quando estão em uma posição de maior privilégio que outra e por que a sociedade é como é. Mais importante, por que um aumento muito grande da desigualdade social poderia levar a um colapso do sistema financeiro mundial como foi na grande depressão americana da década de 20, levando nós investidores a perdas irreparáveis de capital (o documentário do Netflix fala mais sobre isso).

Após este vídeo, eu estava para escrever minhas conclusões, porém, como nosso anuário revelou, nossos leitores e a maioria da comunidade FIRE são das classes A e B, ou seja, provavelmente não conseguem ver isto de imediato. Por isso estou curiosos para saber o que vocês acharam do experimento.

Você consegue refletir e encontrar as situações e momentos da sua vida onde uma decisão aleatória levou você a se tornar o jogador rico ou o jogador pobre do exemplo ou você acha que está onde está unica e totalmente por méritos próprios?

Comente abaixo que minha opinião deixarei nas respostas a cada um.


 
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46 thoughts on “Dinheiro pode tornar você uma pessoa ruim? Veja isto

  1. Resposta baseada em achismo para comentar a "ciência" utilizada no experimento: acho que não tem nada a ver. Uma coisa é um jogo no suposto experimento, outra coisa é a vida real. Quem tem dinheiro tem mais condições de ser um filantropo. Outra coisa, quem divulgou esse experimento tem quais interesses para o divulgar? Sei não. Essa igualdade quem tanto batem na mesma tecla é bem discutível.

    1. AC, obrigado pela contribuição. Acho que a discussão é mais profunda que isto. A questão é mais ampla e talvez o documentário te mostre mais isto, já que este vídeo é apenas um pedaço dele.
      A questão, como falei, não é ter ou não ter dinheiro, mas como as pessoas agem quando o tem. Alias, acho que poder é melhor do que dinheiro para vc pensar nisso.
      As vezes as pessoas acham que conseguiram algo única e exclusivamente por méritos próprios, quando na verdade, eventos aleatórios ou condições herdadas o levaram a atingir aquilo em sua maior parte. O se dar conta disso e perceber que as condições de cada player são diferentes tenderá a diminuir um pouco do preconceito de nossas mentes, o extremismo, levará a enxergar que as diferenças e o que por que delas.
      Abcs AA40

  2. No próprio vídeo, mais pro final, o apresentador cita que pequenas conscientizações (como expôr um vídeo de 40 e poucos segundos sobre a pobreza) já torna os ricos tão dispostos a ajudar o próximo quanto os pobres.

    Assim sendo, não se trata de uma diferença tão brutal. Agora, claro, quando se tem mais poder (ou dinheiro), nós temos mais chances de sermos "pessoas ruins" se assim quisermos ser.

    E os pobres? São pessoas "boas" apenas porque é mais vantajoso ser assim dado que eles não têm condições de serem diferentes? São bons por necessidade ou por princípios? Esta discussão vai longe…

    Dê poder ao homem e conhecerá sua verdadeira essência.

    Agora, o que não vejo se falando é seguinte: os defensores da "igualdade econômica" não apontam que, se existe desigualdade econômica, é porque os que estão no topo geraram valor de uma forma absurda para toda a sociedade. E não, não é tudo "herança", pegue os mais ricos do mundo e verá que existe muita variação ali entre herdeiros e self made men… sendo a maior parte self made men. Heranças se destróem ao longo das gerações se não bem administradas e se não bem alocadas para gerar valor à sociedade.

    Quando é gerada riqueza, todos da sociedade vencem. A desigualdade econômica é apenas um efeito colateral do enriquecimento da sociedade como um todo.

    Qual situação é melhor?

    Situação A) Todos ganham 100 dólares ao mês.

    Situação B) 1% ganha 100 mil dólares ao mês ; 30% ganha 300 dólares ao mês ; 60% ganha 500 dólares ao mês ; 9% ganha 90 dólares ao mês.

    Muitos vão preferir a situação A, pois é menos desigual, a despeito de ser como um todo uma sociedade muito mais pobre e sem mobilidade social, isto é, sem estímulo para o enriquecimento.

    O mundo é desigual: uns nascem feios, outros belos, outros pobres, uns ricos, uns burros, outros inteligentes, uns com acesso à educação, outros sem acesso, uns com amor da família, outros sem amor da família… Esta é a vida, este é o mundo, é muito mais válido aprender a lidar com a realidade tal como ela é e tentar melhorá-la do que ficar brigando com ela.

    O mundo é desigual, cada ser humano é único e completamente desigual e diferente de todos aos seu redor. Isto é belo – não deixem pensamentos ultra-coletivistas apagarem isto.

    1. Interessante seu ponto de vista Renato. Logicamente nascemos em condições desiguais é assim desde que o mundo é mundo e sempre existirá. O que causa revoltas sociais e a ameaça ao status-quo é exatamente a falta de mobilidade social. A impossibilidade de, por meios próprios, conseguir progredir e migrar de classe por esforço próprio. Isto é a principal causa das revoltas que já existiram.
      Abcs AA40

    2. Olá AA40. Concordo com o Renato. E acrescento que somente uma situação de desigualdade social (virtuosa, gerada por valores e não por privilégios) possibilita a mobilidade social e evita as revoltas sociais.

      Existem ricos e poderosos de todas as matizes. Assim como pobres. O que não podemos é generalizar. Não vi esse, mas já vi documentários da Netflix bem tendenciosos (assim como muitas pesquisas são). Hoje há um excesso de financiamento contra o liberalismo que me assusta, e me faz desconfiar de tudo.

      Agora, respondendo a pergunta de seu post, eu sempre fui ciente de que um bom salário ajudou-me a alcançar em 10 anos a IF. Também disse que a alocação de ativos e a diversificação colaborou muito com isso. É um conjunto de variáveis. Bom salário e burrice não faz chegar lá. Logo, há os privilégios, mas também os méritos.

      Também sempre escrevi no blog que a falta de um bom salário não impede ninguém de alcançá-la. Talvez isso ocorra mais tarde, mas os princípios são os mesmos. O importante é estar ciente do que você possui e jogar com as variáveis do momento.

      Abraço!

    3. A questão da fonte da riqueza dos muito ricos, tipo bilionários, é extremamente controversa, principalmente no caso brasileiro. Pela lista de bilionários brasileiros na Forbes, por exemplo, pelo menos metade já era bilionária por ter nascido em berço esplêndido. Infelizmente, a tributação sobre herança no Brasil ainda é muito baixa.

    4. Mas o que o bilionário que herdou sua fortuna influencia na sua vida? Você quer tributar 99% do capital que ele receberia como herança simplesmente por achar injusto ele herdar essa grana?
      E todo o trabalho das gerações anteriores dele, é justo tudo isso ser confiscado?
      E a troco de que? Financiamento de programas populistas, como estamos vendo a discussão sobre o Renda Cidadão?
      Simplesmente tributar bilionários não ajuda em absolutamente nada, é uma discussão extremamente rasa e que eventualmente leva a um aumento no tamanho do estado e da carga tributária.

    5. Tá interessante a discussão pessoal, este realmente era o intuito. Existem boas ponderações dos dois lados e sempre haverá.
      Volto a falar que não sobre o ter riqueza e dinheiro pessoal, é sobre como se comportam as pessoas que tem capital perante o restante da sociedade e um alerta para nós não fazermos o mesmo e julgar e medir os outros com a nossa régua. Abcs e vamos continuar a discussão que tá legal. AA40

    6. Interessante a defesa ferrenha dos privilégios de quem pode PENSAR em ser FI. Na minha opinião, só confirma o que o autor AA40 quis mostrar…
      Situação A e Situação B são difíceis de serem compreendidas se não sabemos o N dessa sociedade hipotética em que todos parecem ser miseráveis. Qual o poder de compra de 100 reais nesse universo que o Sr. nos apresenta?
      Desigualdades geram uma série de inseguranças para quem tem dinheiro também e na vida do brasileiro isso é tão evidente que chega a doer nos olhos. Não a toa, a maioria dos FIRE da comunidade são anônimos.
      Ninguém quer estar em uma posição de desvantagem econômica absoluta, assim como aqueles que não estão tem dificuldade em admitir que se tivessem nascido na absoluta miséria talvez não tivessem condições de dar suas opiniões em uma comunidade FIRE.

    1. Olá Anon. Então, o documentário é bom, bastante história, mas as vezes é meio anti-capitalista, principalmente na parte que os franceses falam, mas vale a pena para colocar as coisas em perspectivas. Temos que abrir a mente se não nos tornamos pessoas que só vêem um lado da história, o que é péssimo para nossa inteligência. Abcs AA40

  3. O tema é bacana, até para que as pessoas privilegiadas tenham alguma noção do privilégio que possuem.

    Outro tema conexo, que reputo fundamental, é o da discussão da meritocracia. É muito complicado falar em meritocracia quando as condições materiais das partes em "disputa" são tão díspares. Há muita desigualdade de oportunidades, gerada pela pobreza e pela desigualdade social (eu concordo que a desigualdade social em si não é um problema, mas a desigualdade social abissal é).

    Essas oportunidades iguais mínimas, sobretudo na primeira infância, é que permitiriam uma disputa justa e meritocrática. Uma criança não escolhe nascer em uma família pobre e desestruturada, nem em uma família rica e com "a vida arranjada". Ela não deveria ser culpada pelo azar ou pela incompetência dos seus pais.

    Abraço.

    1. Exatamente. Acho que vc foi quem melhor entendeu a discussão aqui. Não tem nada a ver com ter ou não ter dinheiro, e sim sobre o comportamento, o se dar conta dos privilégios que temos e a desigualdade de oportunidades. Isto sempre haverá, mas colocar as coisas em seu devido lugar, evitar julgar com base em nossos parâmetros é essencial para evitar menosprezarmos quem não possuiu os mesmos privilégios que nós.
      Vemos isto aqui na blogosfera mesmo, onde a maioria é da classe A e B conforme nossa pesquisa. Muitos tratam seus leitores e comentaristas com certo tom irônico, certo despreso, se acham superiores intelectualmente e financeiramente. Vamos tomar cuidado para não sermos assim. Afinal, todos vamos morrer e vamos para o mesmo lugar e como meu pai sempre fala, o cheiro será o mesmo. Abcs AA40

  4. AA40,

    Interessante esse experimento, ilustra bem como a humanidade ainda tem muito a desenvolver-se.

    Achei curiosamente negativo o fato de nenhum dos jogadores ricos ter atribuído seu bom desempenho à sorte inicial, embora tenham reconhecido as facilidades de poder quase voar na estrada da vida enquanto o jogador pobre poderia somente andar por ela.

    Boa semana,
    Simplicidade e Harmonia

    1. Olá SH. Pois é, o que mais me chamou a atenção foi isso. Como podem não se dar conta que foi pelo sistema e não apenas pelos méritos? Mas somos assim mesmo, psicologia humana. É preciso nos darmos conta dessas coisas para evitar injustiças ao longo da nossa vida. Haverá o tempo que seremos "ricos" e não podemos atribuir 100% disso ao nossos esforços mas a uma série de fatores que nos levaram a isto, além é claro do esforço sempre presente.
      Abcs AA40

  5. Não vou me atentar ao debate da distribuição de renda que alguns colegas expuseram, apenas ao comportamento.

    Na MINHA OPINIÃO, pelo menos no que se aplica ao Brasil existe um certo pensamento social da população mais abastada de superioridade em relação as outras classes sociais, já presenciei "carteiradas" baseadas em ser mais rico que o outro que dão vergonha. É fato que não é todo mundo da classe A brasileira que tem esse pensamento, mas vejo uma quantidade muito grande de gente que tem esse tipo de atitude e que acho deprimente, chego a sentir pena da pessoa.

    Alguns falam "ah, mas dê dinheiro ao pobre e veja se não será igual", quanto a isso acredito que possa realmente ser igual da mesma forma, mas é justo aqui o X da questão, não é por que o outro se comportaria igual que a forma de se comportar é a correta, precisamos repensar o modo como tratamos as pessoas e principalmente aqueles de classe mais baixa e os que são prestadores de serviços (como garçons, empregadas domésticas, motoristas de App e tudo mais, esse são os maiores alvos), as vezes penso que é uma herança do passado de escravidão do Brasil e que ainda continua de certa forma presente no senso de superioridade.

    É questão de reconhecer que o outro tem a mesma dignidade humana que você.

    Abraços,
    PI.

    1. Concordo também contigo que isto realmente acontece no Brasil, Poupador do Interior. As pessoas se axam superiores porque têm mais dinheiro.

      Falta muita educação para a população brasileira, muitos endinheirados não são sequer dignos de serem servidos, pois não conseguem ter uma educação mais básica para com os demais como um "Boa Tarde" ou "Por favor" ou "Obrigado". Uma das coisas mais podres que existe é observar que educação fica parecendo uma obrigação de quem serve ou tá prestando um serviço, e não de quem está sendo servido.

      Falta civilidade a muitos.

      É engraçado eu escrever isto tudo frente ao que escrevi no outro post. Fica parecendo uma contradição rs, mas não é. Concordo que o foco da discussão não é o dinheiro, mas "sobre como se comportam as pessoas quando têm capital". O problema é que sim, ter capital pode te possibilitar ser uma pessoa ruim ou pior se assim vc desejar ser. Todo poder traz isto. Entretanto, o problema é que esta possibilidade, este fator, vem a ser utilizado depois para uma defesa de uma "maior igualdade econômica no mundo", quando o problema maior (ao meu ver) não é o da desigualdade, mas o da geração de riqueza como um todo no mundo.

      E a geração de riqueza no mundo que vivemos hoje gerará desigualdades, não há como fugir disto. É um efeito colateral inevitável.

      Abraços!

    2. Essa falta de civilidade é algo altamente democrático, acontece da classe A à E.
      A maior parte das pessoas não respeitam de fato o espaço dos outros.

    3. Poupador do Interior, você chegou no cerne da questão : o problema da desigualdade social começou com a escravidão.
      A defesa da meritocracia ignora um fator crucial da história do mundo (pelo menos o "nosso" mundo, fortemente influenciado pelo colonizador europeu): toda a riqueza do mundo foi baseada no poder, em subjugar o próximo, sempre colocando alguém em posição de inferioridade. Sempre alguém esteve acima explorando o de baixo. De um jeito torto, preconceituoso e abusivo ainda repetimos esse comportamento até hoje.

  6. Essa é uma questão muito polêmica, e sim, apesar de eu ser contra essa mentalidade rico vilão x pobre bonzinho que impera aqui no BR, não há como negar o quanto os ricos brasileiros possuem uma mentalidade provinciana, arcaica e elitista.

    Isso acontece pois nos EUA (um país verdadeiramente capitalista), a esmagadora maioria dos ricos construíram a própria fortuna após a independência, enquanto aqui no Brasil a maioria das pessoas de classe alta (ricos, entendam que incluo também a classe média alta) são descendentes de quatrocentões, de nobres da colônia e do império. No interior também riqueza está muito ligada ao coronelismo, que ainda deixou muitos resquícios por aí.

    Por isso que a "carteirada" é tão comum aqui no BR, essas pessoas ricas do BR agem assim não por causa do dinheiro, mas porque acham que possuem um sangue diferente, azul. Resumindo, riqueza aqui é tida como característica genética e física de uma pessoa, enquanto nos EUA todo mundo vê como um acumulo de trabalho e investimento (pelo menos até a ascensão do progressista).

    Eu já trabalhei em uma repartição pública e percebia o quanto alguns empresários e pessoas de renda maior se achavam superior por ter um sobrenome X, ser neto de fulano de tal, exigiam tratamento VIP enquanto nem bom dia davam. Por outro lado, os que eram mais self-mad man (minoria no Brasil), eram bem mais educados e não destratavam muito as pessoas.

    Enfim, isso é ruim pois as pessoas tem raiva desse tipo de rico, o mais comum no Brasil, e acabam tendo uma visão distorcida do enriquecimento, e uma coisa não tem nada a ver com a outra.

    1. Um adendo é que esses ricos de berço no Brasil consideram os self-mad man como "novos ricos" e os tratam de forma mais perjorativa, enquanto nos EUA essa diferenciação é culturamente estúpida.

    2. Exatamente Anon. O documentário que citei fala muito disso, o capitalismo feudal e aristocrático que sempre imperou até as grandes guerras onde absolutamente ninguém conseguiria adentrar a estas grupos vindo de baixo. E com a criação do capital industrial e o capitalismo moderno criou-se também as condições de termos mobilidade social e um "self-made" consegue finalmente adentrar estas castas – os novos-ricos.
      Vale a pena ver o documentário se ainda não o viu, mas tudo na vida, "take it with a grain of salt". Abcs AA40

    3. O que vc comenta do Brasil tambem existe nos EUA. Nao existe pais "realmente capitalista" pq isso é um apenas conceito teórico e uma simplificacao para pessoas burras.
      Talvez uma diferença nos EUA vem de um fato historico, que foi a Guerra Civil em que o Norte venceu o Sul escravista. O Brasil é um pais onde essa guerra nunca houve e o Sul sempre esteve no comando, fazendo uma analogia. O Brasil ainda tem uma mentalidade colonia que os EUA superou.

      De resto, o ser humano é a mesma merda desde os primordios da humanidade. Os ricos sempre lutaram para garantir que seus filhos continuassem ricos mesmo sem merecer enquanto os pobres sao tratados a pao e circo para nao se rebelarem. As vezes a coisa desanda e alguem vira a mesa mas normalmente todo mundo joga Monopoly como no experimento e aceita as condicoes desiguais da vida

  7. AA40, com toda a certeza do mundo sei o quanto meus privilégios me ajudaram. O fato de eu ter tipo a oportunidade de estudar em escolas particulares me levaram a uma faculdade Federal, que me deram boas oportunidades de emprego, de intercâmbio e por aí vai. O fato de ter uma família bem estruturada, sem precisar "ajudar em casa" desde cedo, sem sofrer abusos e injustiças, com uma família que entendia a importância do estudo, de aulas de inglês, da cultura, dos livros, certamente abriram as portas pro conhecimento geral (e financeiro) que tenho hoje também. Acho muito fácil falar "todo mundo pode ser FIRE" quando se viveu a vida que eu, graças à sorte, vivi. Óbvio que muitos pegam essas oportunidades e ignoram, cabe a mim aproveitá-las da melhor forma possível, mas fingir que nascer branca, de família estruturada, sem fazer parte de minorias que sofrem preconceito (tirando ser mulher, mas aí é outra discussão) não fizeram tooooda a diferença no meu destino é ser, no mínimo, ignorante. Eu cresci achando que todos podiam chegar nos mesmos lugares, que era questão de esforço. Hoje, depois de viver a vida em escolas e empregos com 90% de pessoas "iguais" (brancas, de escolas boas, sem grandes problemas na vida), com o mesmo background, vejo a importância de políticas que tentem diminuir o abismo. Acho que você gostaria desse vídeo, ele me abriu muito a cabeça: https://www.youtube.com/watch?v=L177yGji8eM

    1. Pois é anon, eu também já fui assim, pensava que só esforço bastava. Acreditava em meritocracia, inclusive tenho artigos aqui no blog da época que pensava mais dessa forma, mas com o passar do tempo vamos aprendendo e abrindo nossos olhos que não é bem assim. Esforço pessoal é muito importante e um grande diferencial em muitos casos, mas não é tudo. Abcs AA40 e vou colocar o link do vídeo no watch later aqui sim. Valeu

    2. Tomar cuidado só para não migrar radicalmente para outro lado, tornar-se um vitimista o qual só acha que pessoas de origem socioeconômia boa podem prosperar e o que te resta é se vitimizar, culpar todo mundo por sua pobreza e achar que todo mundo te deve algo, que todo mundo é opressor e você é oprimido, etc.

      Eu sou pobre, do interior e reconheço que sou bem desprivilegiado, sim, tem muita gente que largou muito na frente que eu, mas ao mesmo tempo eu sei que ficar só reclamando e chorando de nada vai adiantar. Ou isso ou virar esses revolucionários de universidade federal. Escolhi o primeiro caminho por lucidez. Meritocracia não é totalmente inexistente quando falamos de pessoas que partem da mesma condição. Não sou hipócrita, não vou bancar o socialista só para parecer cool enquanto no fundo eu quero riqueza e independência financeira.

    3. Bom contraponto Anon. Só não acho que ser socialista é cool. Na verdade são bem discriminados, mais do que os capitalistas ferrenhos como nós, mas sim, vitimíssimo nunca levou ninguém a lugar nenhum, mas tlvz o velho ditado "quem não chora não mama" tenha contribuído para este pensamento, principalmente no Brasil. Enfim como tudo nesta vida, equilíbrio para ambos os lados. Abcs AA40

  8. Os ricos nunca enxergam sua posição de privilégio. A maior parte de nós está onde está por conta do cara ou coroa feito quando nascemos na família em que nascemos. Meritocracia é um subterfúgio para privilégio, simples assim.

    1. "conta do cara ou coroa feito quando nascemos na família em que nascemos" Está ai uma ótima analogia ao estudo citado no post. Na realidade é mesmo uma loteria em que família nascemos, e invariavelmente, isto ter um papel crucial naquilo que somos e onde conseguiremos chegar, querendo ou não. Abcs AA40

  9. É preciso se entender e discutir o que cada um entende como meritocracia.

    É óbvio que o mundo não é 100% meritocrático, mas ela é um fator importante.

    Meritocracia pra mim é um catador de latinhas estudar e conseguir virar um lixeiro. E depois disto estudar ainda mais e virar supervisor dos lixeiros.

    "Ah, mas é um absurdo, ele não teve a mesma oportunidade que um outro que nasceu em berço de ouro e virou médico".

    Pois é, o mundo real é este. Entretanto, se formos remover a meritocracia como algo importante, não será quem se esforçou e estudou que irá conseguir subir um pouco na vida, e sim irá subir na vida qualquer um, o que naum estudou nada ou mesmo ninguém irá evoluir. Isto é justo? Ao meu ver não, só piora a situação.

    Este supervisor dos lixeiros subiu na vida dentro das suas possibilidades, isto é meritocracia. Ele foi recompensado pelo seu próprio esforço e evoluiu em relação à vida que ele tinha no passado.

    Da mesma forma, quem nasceu em berço de ouro pode perder toda sua fortuna com decisões ruins e um outro pode perpetuar ainda mais a riqueza da sua família. Isto é bem meritocrático para mim.

    O mundo é feito de heranças. Não herdamos apenas patrimônios, capital. Herdamos também conhecimento ao longo de gerações, tecnologias, know how, eu diria que até sentimentos podem ser herdados de uma família amorosa (ou odiosa) ao longo de séculos. Não é prudente ou sensato jogarmos tudo no lixo, ignorarmos toda nossa evolução, apenas para "ficarmos todos iguais, no mesmo ponto de partida". Isto irá destruir capital.

    Tem gente que se mata de trabalhar, e vive uma vida de privações, em prol dos filhos e netos terem uma vida melhor. É justo vir alguém com utopia de igualdade absoluta espoliar esta pessoa? E se ela assim o fizer, veja só… ela não gerará mais riqueza para a sociedade, irá fechar todos os seus negócios, demitir mil pessoas, e torrar toda sua grana antes que morra, antes que venha o Estado querer confiscar sua riqueza na malfadada herança.

    Eu consigo conceber um outro exemplo meritocrático que até pode levar em consideração a origem, mas apenas como critério de desempate.

    Se irei empregar alguém, e ambos têm o mesmo currículo sob o ponto de vista técnico. Só que um veio de família humilde, nasceu na favela e o outro em berço de ouro. Quem irei contratar? O da favela, pois alcançou o mesmo resultado que o outro mesmo partindo de uma situação inicial pior – ele alavancou suas possibilidades de uma forma mais eficiente que o outro. Sendo dadas mais oportunidades, pode-se alavancar ainda mais… e isto será benéfico para a empresa e para a sociedade.

    Agora, o que é feito hoje em dia sob o sistema de cotas, é colocar alguém PIOR tecnicamente… apenas porque tem uma determinada característica de raça ou pertence a alguma minoria. Isto pra mim é contra-producente. Todos da sociedade perdem, em prol de uma "igualdade artificial".

    O mundo é todo desigual, não apenas sob o ponto de vista econômico. Não se legisla cultura, nem se muda a mentalidade das pessoas por decreto. Vamos olhar para o mundo como ele é e aprimorá-lo de uma forma + prática.

    1. Acho que há uma confusão terminológica. Meritocracia não se confunde com esforço pessoal.

      Para Vincent Dupriez a noção geral de meritocracia "refere-se ao princípio que estabelece que uma sociedade justa é aquela que dá a todos o lugar que merecem, de acordo com seus esforços e talentos, em vez de um lugar arbitrariamente herdado". Uma meritocracia plena pressuporia oportunidades iniciais iguais e mobilidade social 100% dependente de esforços e talentos individuais, o que é fantasioso.

      Além disso, o problema do culto à meritocracia é semear a falsa visão de que todos temos oportunidades iguais, e que, bastando se esforçar, todos podem chegar lá, por méritos próprios.

      Agora, o esforço pessoal tem que sempre ser valorizado sim. Com esforço pessoal é sempre possível que uma pessoa potencialize as suas possibilidades e oportunidades, ainda que sejam muito pequenas.

      Portanto, dizer que a meritocracia não existe não implica em desvalorização do esforço pessoal ou da competitividade, que são sim essenciais para que as pessoas tenham os melhores resultados possíveis.

    2. Discordo da parte das quotas.

      Vamos supor que existam 60 vagas em um vestibular de Medicina. Antes das quotas, essas 60 vagas eram conseguidas por pessoas geralmente ricas, vindas de boas escolas e enfim, com uma bagagem boa para um vestibular. No entanto, perto do corte, na posição 51-60, a nota dessas pessoas não era tão alta, sendo que era esperado uma nota maior para esse pessoal com tanto recurso.

      E aí tem uma galera pobre, que veio de escola pública, geralmente com qualidade inferior, e mesmo com todo os contras consegue tirar uma boa nota para a realidade dela, muito próxima daqueles dos 51 – 60. Dá para concluir quem se esforçou mais e quem realmente merecia a vaga? Entende? Uma pessoa tirou 760 (na média) no Enem, é rica, estudou a vida inteira em escola particular. Já a outra tirou 750 sendo pobre, de escola pública típica. É a mesma dinâmica da empresa que você citou, é meritocrática, a pessoa rica de escola particular com certeza se dedicou menos que a outra, portanto ela perdeu a vaga não por causa da cota, mas por causa de alguma falha na preparação dela. Enquanto o pobre que se esforçou além do seu limite, por 10 pontos vai ficar de fora, atrás de alguém que teve mais oportunidades mais se esforçou menos.

      Pesquisa um pouco sobre notas de quotas em universidades públicas, principalmente em cursos como Medicina, Direito e Eng. Civil, você vai ver que até para cotas as notas são muito altas, é muito exagero dizer que há uma queda do nível técnico com elas. Claro que a solução seria investir na educação básica, mas isso nunca vai acontecer direito aqui no BR.

    3. Concordo com você. Passei muito tempo criticando qualquer cota pois achava q, quem quisesse, que estudasse e entrasse por "mérito". Com o tempo fui abrindo os olhos pro fato que enquanto eu tinha 10h livres pra estudar, alguém sem condições trabalhava o dia todo, ia para escola de noite e estudava nos poucos intervalos. E em todas as escolas, faculdades, empregos e cargo que tive, a quantidade de negros ou vindos de escola pública são sempre a minoria absoluta. Acredito que as cotas são importantes para mudar o status quo. Pode não ser "justo" com todos, mas é uma maneira de mudar um pouco a situação para a próxima geração. Essa pessoa virando médica terá chance de dar uma vida e educação melhor pros seus filhos e netos, até que a situação mude tanto que a cota não será necessária. Não vou ser hipócrita de dizer que não aproveitei e aproveito os privilégios que eu tenho, mas faz parte de ser humano abrir a mente pra outras realidades.

    4. Uma coisa são cotas de oportunidades de acesso (vestibular), outra coisa são cotas para resultado (cotas para preenchimento de vaga de emprego). Hoje em dia estão querendo colocar cotas para tudo…

  10. Gostei do post e do experimento, tanto ele quanto a conclusão se assemelha muito as ideias de Nassim Taleb no livro Iludidos pelo Acaso. De fato existem muitas pessoas que não consegue atribuir o seu sucesso ou as suas condições ao acaso, a uma aleatoriedade que simplesmente aconteceu com ele, esse fato é fácil de explicar porque sempre tempos o viés da retrospectiva e da não aceitação da probabilidade nas nossas vidas.

    Agora entrando no âmbito social, creio que sempre que o ser humano tem poder sobre a outra ele vai de alguma maneira se sobrepor, mesmo que inconscientemente. Lembrando que dinheiro é uma das maiores representatividade de poder, então quem tem dinheiro sempre tem um "ar" a mais de conquista, mas nem sempre quem tem dinheiro conseguiu ele de força justa pelos seus esforços ou de forma não aleatória.

    Excelente post para reflexão.

    Abçs

  11. Interessantíssimo esse estudo. Fica bem visível a forma como a desigualdade afeta até num simples jogo de tabuleiro e como as pessoas se apropriam dessa desigualdade para subjugar os "inferiores". Ótimo post, AA40!

  12. AA, parabéns pelo trabalho desenvolvido e pela provocação. Acredito que a meritocracia deva sempre ser estimulada. Mas acredito, também, que a maioria esmagadora da classe A, hoje está nessa posição porque ganhou a "loteria do útero", como no estudo. Então, será que podemos falar de uma meritocracia absoluta quando o sistema educacional não permite que pessoas de diferentes backgrounds possam desenvolver seus talentos de forma plena em prol da sociedade? Será que eu estaria na minha posição atual se não tivesse ganhando na "loteria do útero", se não tivesse tido as oportunidades que tive? Provavelmente não. Será que no vestibular eu não passei na frente de outras pessoas mais talentosas que precisavam trabalhar o dia todo para ajudar a família, enquanto eu "morava" na escola particular? Provavelmente sim. Uma observação que faço ao ver meu círculo de amigos da classe A é que não existe a cultura da filantropia (talvez por entender que não devam nada aos outros, o que numa visão específica pode ser verdade), a vida na bolha acaba fazendo as pessoas se esquecerem das dificuldades dos outros e em determinados momentos, nos faz perder um pouco da humanidade. Às vezes, o excesso de comodidades faz as pessoas reclamarem em demasia, perderem a noção da realidade e perderam a noção do que realmente é importante. Sobre a questão do problema de pertencimento na sociedade atual, perpassando pela questão do acúmulo patrimonial, que nos interessa, recomendo uma leitura do livro Tribe, do Sebastian Junger, livrinho em inglês, fácil de ler, de umas 150pgs. Se não tiver paciência, recomendo ouvir as duas entrevistas dele no podcast do Joe Rogan. Grande abraço!

    1. Complementando o post anterior, existem algumas passagens do livro relatando que em situações de crises extremas (guerras e desastres), as pessoas acabam se unindo e a sociedade, embora enfrente sérias limitações materiais, passa a ser mais feliz e saudável, ele cita uma espécie de "camaradagem coletiva da desgraça". O livro não romantiza a pobreza ou a desgraça, claro, mas acredito que muitos aqui sentem saudades de alguns dos períodos mais difíceis de suas vidas, o que é um paradoxo e bastante curioso.
      Por outro lado, o autor constata que em tais situações de escassez, a sociedade retoma ao seu padrão primitivo, ao padrão que está no nosso DNA em razão das evoluções, de trabalhar como uma tribo em prol do bem comum. Nessas situações, as hierarquias sociais anteriores deixam de existir e cada um passa a ocupar um novo espaço na sociedade de acordo com o que eles podem contribuir para superar o momento de crise. O curioso, é que o livro comenta que tão logo a ajuda externa chegue ou a crise seja afastada, os vícios anteriores ressurgem, com alguns querendo privilégios injustificados, etc. Curioso, não?

  13. A humanidade é assim desde os primordios. Os ricos lutam para garantir que seus filhos continuem ricos mesmo que nao mereçam e os pobres sao tratados a "pao e circo" para que nao se rebelem. As vezes, as coisas saem do controle e acontece uma revolucao, mas logo novos ricos ascendem e o ciclo recomeça.

    Seremos assim até a extinçao da raça humana.

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